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Através do vidro

Linguagem Arquitetônica

e os desafios da educação.

A linguagem arquitetônica é um conceito amplo, pertinente à área de estudo que investiga a interação das linguagens como meios de transmissão de conhecimento sobre a arquitetura.

 

Tudo o que conhecemos como “cultura arquitetônica”, pode ser transmitido através de linguagens variadas, que se subdividem em basicamente dois grupos distintos: aquelas que operam de maneira direta com nossos sentidos e outras que operam de maneira indireta, pelo conhecimento lógico, pelo domínio dos sistemas de representação e pelos meios de comunicação, digitais ou analógicos.


As linguagens que operam de maneira direta estão presentes no ambiente que nos rodeia e dependem do conjunto dos nossos sentidos para que se realize um primeiro nível de comunicação. O suporte dessas linguagens é o espaço real, o ambiente construído, seja ele em seu estado natural e preservado ou em estado artificial. São as paisagens, os parques, as reservas naturais,  as cidades e seus sistemas, estruturas e equipamentos, e dentro delas, no caso específico, as obras de arquitetura.

 

O ambiente construído onde se insere a arquitetura e os estudos urbanos, possui códigos não formais que nos falam aos sentidos. Através deles podemos usufruir das qualidades de um espaço, numa relação de interação, ou seja, é somente através da vivência no espaço real que podemos aprender e apreender a arquitetutura de uma maneira direta (não escrita, não falada, não representada).

 

As linguagens diretas estão condicionadas pela percepção, que opera quando estamos interagindo com determinado ambiente, ou quando por exemplo, visitamos um determinado lugar ou edificação.  Primeiramente, todo o conjunto dos nossos sentidos decodifica de maneira sinestésica as informações que nos chegam como estímulos, através dos quais percebemos as dimensões, luz, superfícies, circulação, conforto, acústica, etc.. A partir disso e num segundo momento, poderemos atribuir toda uma carga de significados e valores aos ambientes, tal como sua simbologia, composição, qualidade estética, qualidade funcional, valor ambiental, etc..


Já as linguagens que operam de maneira indireta e racional para o conhecimento da arquitetura e do ambiente construído são chamadas de metalinguagens. Possuem variados suportes, bi e tridimensionais, todas elas de caráter representativo. Assim, a cultura arquitetônica pode também ser transmitida através de linguagens indiretas, como por exemplo, de forma oral, escrita, gráfica, cenográfica, fotográfica, audiovisual, virtual.

 

Estudamos a cultura arquitetônica predominantemente através de linguagens indiretas, uma vez que não podemos visitar todos os lugares, obras ou cidades importantes durante uma vida inteira, quanto menos durante um curto espaço de tempo destinado ao ensino formal. Num certo sentido, estudando "à distância", será através de muitos livros, revistas,  fotografias, sites, artigos, vídeos, redes sociais, modelos tridimensionais e sobretudo, através de muitos desenhos, que nos aprofundaremos e construiremos um repertório sobre as variadas experiências com os ambientes e espaços construídos. Isso parece bom.

Entretanto, nada substitui a experiência direta de usufruir dos ambientes: esta é a maneira primordial através da qual a arquitetura se realiza no espaço-tempo, se torna espaço construído e assim se faz como obra, porque exige materialidade expressa e uma apreciação presencial por parte dos seus usuários.

 

Com as novas modalidades de ensino híbrido, com atividades presenciais e remotas cada vez mais atuantes na educação,  vemos os desafios pedagógicos impostos  aos cursos de arquitetura no mundo. Podemos complementar o entendimento de uma obra arquitetônica com inúmeros instrumentais, mas a arquitetura ou a obra arquitetônica deve, na medida do possível, ser experimentada presencialmente. Visitas monitoradas, visitas técnicas aos canteiros, levantamentos ou a simples contemplação de uma obra arquitetônica apreciada "in loco" agregam um repertório de experiências sensoriais, simbólicas e empíricas, impossíveis de serem reproduzidas pelos meios virtuais.

 
Como se vê, o termo “Linguagem Arquitetônica”, diz respeito à uma área de estudos sobre as linguagens aplicadas à arquitetura e também à transmissão da arquitetura como forma de conhecimento desses  grandes artefatos, de espaços construídos em diálogo com seus contextos.  Uma manifestação da cultura, que envolve ambiente, sociedade, técnica e arte, os pilares nos quais se apoia a arquitetura.

 

Texto: Stella Miguez

Foto: exposição  Fauusp , Provas de Habilidades Específicas

 

 

 

 

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